O que
torna Dakota do Norte, Nebraska e Dakota do Sul diferentes do resto dos Estados
Unidos?
A primeira
diferença é que os três Estados possuem os menores índices de desemprego do
país: 3,5%, 4,2% e 4,5%, respectivamente, comparados à média nacional de 9% em
outubro. A segunda grande diferença é a agricultura. A atividade rural tem
maior participação no Produto Interno Bruto (PIB) desses Estados do que nos
outros. Enquanto a média nacional é inferior a 1,5%, o percentual chega a 10,9%
em Dakota do Norte, a 9,4% em Dakota do Sul e a 6,9% em Nebraska.
Ter um
setor agrícola com grande peso era uma maldição nos anos 80 e 90. Hoje, é
bênção.
O
Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informou recentemente que o valor
agregado líquido da agricultura na economia do país (ajustado pela inflação)
deste ano será o maior desde 1974. E esse bom momento deverá ser prorrogado.
Números oficiais mostram que em 2011, pela primeira vez, os agricultores dos
EUA levarão para casa mais de US$ 100 bilhões em um único ano.
Nas
palavras do secretário da Agricultura do país, Tom Vilsack, a "agricultura
continua a ser um ponto luminoso" em meio à economia dos EUA. De fato, a
atividade rural é um dos poucos destaques, ao lado da produção de recursos
naturais, especialmente o petróleo.
O bom
momento agrícola também levou o setor de agronegócios dos EUA, pela primeira
vez em muitos anos, de volta aos radares dos maiores investidores. Empresas do
setor, desde a Deere & Co., maior fabricante mundial de tratores e
colheitadeiras, até a Monsanto, produtora de sementes e pesticidas, passando
pela Cargill, maior comercializadora de commodities agrícolas do mundo,
beneficiaram-se. Paralelamente, o preço das terras cultiváveis nos Estados
agrícolas - atualmente outro investimento de grande procura - avançou, com
valorizações anuais superiores a 25%.
O USDA
indica que o setor agrícola do país caminha para ter outro bom ano em 2012, o
que estenderia o boom para seu quinto ano consecutivo. Nos últimos dez anos, a
receita agrícola líquida quase dobrou, como resultado da expansão da produção
de commodities agrícolas nos Estados Unidos - especialmente o milho - e da
elevação dos preços a seus maiores patamares históricos.
Em 2001,
os agricultores do país levaram para casa pouco mais de US$ 50 bilhões; neste
ano, o USDA estima que ganharão US$ 100,9 bilhões, 28% a mais do que em 2010.
Paralelamente, os subsídios concedidos pelo governo americano deverão cair para
US$ 10,6 bilhões neste ano, 1,4% a menos do que em 2010.
Esse
aumento na receita é resultado de uma rara onda de alta nas commodities. Nos
últimos 30 anos, os preços dos alimentos subiram brevemente e em poucas
ocasiões. A maioria das vezes, as elevações foram registradas isoladamente em
algumas commodities - trigo, milho ou soja. A tendência de alta que ganhou
fôlego em meados do ano passado e beneficiou esta safra 2011/12, porém, abrange
quase todas as commodities agrícolas ao mesmo tempo, fenômeno que não se via
desde o biênio 1973-1974.
As altas
têm raízes na forte demanda por matérias-primas nos países em desenvolvimento,
particularmente China e Índia, no grande apetite da indústria de
biocombustíveis dos EUA e nas interrupções nas exportações e produção de vários
produtores-chave, da Rússia até a Austrália.
Há nuvens
no horizonte, no entanto. Houve forte aumento nas despesas, com os
fertilizantes, em alta de 18% nos últimos 12 meses, e os combustíveis, de 27%.
De modo geral, os custos de produção subirão 12%, para o recorde de US$ 320
bilhões. A elevação neste ano assemelha-se ao preocupante aumento nas despesas
verificado em 2007 e 2008.
Outro
fator é que a tendência pode estar chegando naturalmente a seu fim. A atual
sequência de vários anos de preços altos é uma anomalia. Historicamente, a
produção de commodities agrícolas acaba superando a demanda, o que desencadeia
um período prolongado de preços baixos. Ainda está por ver-se se a continuidade
do ímpeto da demanda será suficiente para contrabalançar a tendência natural
dos agricultores a exagerar na dose da produção. No meio tempo, Dakota do
Norte, Nebraska e Dakota do Sul continuarão diferentes.
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